PARASHÁ VAYÊSHEV – A INVEJA E SUA ORIGEM

inveja

“E disse: muitos são efetivamente os adversários com quem o ser humano há de contender desde o dia em que D-us insufla nele uma alma neste mundo. Pois tão certo como emerge a luz do dia, o mal instigador está pronto para se aproximar à ela” (Zohar Vayêshev) .

Esta parashá nos ensina sobre a vida de Yossef, e o quanto era odiado por seus irmãos, em função da preferência que Yacoov , o pai, tinha para com ele, em detrimento deles. A Torá nos mostra que o grande motivo do ressentimento deles, era porque o irmão mais novo era leal ao pai, portanto amava sua companhia e compartilhavam momentos juntos. Yossef então começa a despertar seus dons, de interpretação de sonhos e tem uma profecia, na qual se vê liderando a Casa de Israel, o que determina sua mazal (destino) na mente dos irmãos.

Os nossos sábios interpretam que estes adversários com os quais nós temos que contender, não são físicos. Em verdade, eles estão nas Klipót(cascas), vinculados ao lado maligno que é um estado muito rebaixado da existência, mas da mesma maneira que o justo é capaz de atrair para este mundo a luz divina, o perverso também traz para nossa existência as trevas. O que significa que por equivalência de forma (emoções similares), o maligno consegue um ibum (fusão), com a pessoa e passa a atuar através dela. No que chamamos no CCI de caminhar rumo a “terceirização do livre-arbítrio”.

Isto acontece por uma dinâmica muito mística: o bem representa a “presença de D-us”, enquanto o mal representa a “ocultação do divino”, exatamente porque esta conexão com o Criador atrai a Luz, que nutre todas as coisas e as forças das trevas também tem esta necessidade de nutrição, já que na Sitra Achrá (outro lado), a luz divina que penetra, é somente o suficiente para gerar subsistência e não prazer. A única maneira que a força maligna tem de obter prazer é se vinculando aos seres humanos dos  quais sugam força vital, porém se o “brilho” é intenso demais estas forças são repelidas.

O que podemos entender da seguinte forma: a princípio estas forças tentam agir no justo, porque sua luz é extremamente intensa e sedutora, mas isto acaba por ser impossível, já que a intensidade expulsa o maligno. Então as forças klipóticas atuam no elo fraco, pessoas que possuem a força vital necessária para lhes gerar prazer, mas que não chega a ser tão forte para repelir o mal. Porém, a klipá guarda um ressentimento enorme do justo, por não poder residir nele, então usa as pessoas que estão sobre a sua influência para atacá-lo.

Existe uma história que explica isso: certa vez um homem tinha um bazar pequeno, mas estava muito mal nos negócios. em contrapartida, o seu vizinho tinha um bazar gigantesco, que só prosperava. Então, chateado, este homem falava mal do vizinho para todo mundo, muitas vezes através de mentiras. Mas isto não mudava a sua situação, então decidiu procurar um cabalista. O cabalista disse: “realmente você tem uma situação muito difícil, porque você está administrando dois bazares”. Então respondeu o homem: “você não entendeu, eu só tenho UM pequeno bazar”! Nisto o cabalista finalizou: “então, por que você pensa tanto no bazar do vizinho? Preocupe-se apenas com o seu”.

A inveja está baseada no princípio de querer o que é do outro, porque o invejoso em geral não enxerga o potencial que ele próprio possui em conquistar, porque sua visão está encoberta por estas cascas as quais ele está vinculado, pela maneira ruim como conduz as vestimentas de sua alma: pensamentos, palavras e ações. Por isso, ainda que possa conquistar coisas no campo material, ele está falido espiritualmente, já que estas forças o instigam a sempre contra alguém.

Diz a Torá: “muitas são as adversidades do justo, mas D-us sempre o livra de todas elas” (Tehilim 34:20). Porque como o Zohar nos ensina, que o Criador se deleita com a pessoa que vive em comunhão com Ele, realizando as suas coisas, sem se incomodar com o que os outros estão fazendo, já que o justo fica feliz com a vitória alheia. Justamente era isso que Yossef tinha e seus irmãos não. Analisando friamente, o irmão mais novo passou por todos os empecilhos, ao ser vendido como escravo no Egito, enquanto que seus irmãos que o venderam gozaram da Terra de Israel. No entanto internamente eles sofriam, enquanto que Yossef era feliz, pois estava em Devekut (comunhão) com D-us.

Ao final, da Parashá fica claro quem prosperou de verdade, porque como nos ensina o Rei Salomão: “um pouco de sabedoria, elimina muita ignorância, tal qual a tênue luz de uma vela expulsa muita escuridão”.

Shabat Shalom!

Rafael Chiconeli

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